Fora Bolsonaro em Laranjeiras do Sul foi marcado por encontro formativo de ‘mulheres na política’
A iniciativa foi do Coletivo de Mulheres de Esquerda de Laranjeiras do Sul, com a finalidade de fortalecer lideranças femininas, por meio de uma melhor compreensão sobre a conjuntura política.
O encontro de mulheres integrantes do Coletivo de Mulheres de Esquerda de Laranjeiras do Sul e convidadas, foi no último sábado (02), tendo como palestrante a historiadora e professora da Unioeste, Dra. Liliam Porto, que atualmente também é vereadora pelo PT, no Município de Cascavel-Pr.
O evento presencial, obedecendo os protocolos de segurança em função da Covid-19, ocorreu no saguão do Colégio Laranjeiras do Sul e contou com 20 participantes, que na abertura, tiveram interação cultural, na forma de leitura coletiva de poesias e interpretação cênica do poema Todas as Vidas, de Cora Coralina, pelas integrantes Solange Pilati e Serli Andrade.
Na sequência, a professora Liliam Porto discorreu sobre a temática da Mulher na Política, a qual vivencia como vereadora por Cascavel, e sobre a qual, propõe profunda reflexão da sociedade, no sentido de combater a cultura negacionista, que naturaliza a invisibilidade da mulher nos espaços de disputa política e todos os demais campos de poder. A primeira reflexão sugerida é, o que justifica a quase ausência das mulheres na política, sendo que a população é composta por mais de 50% de mulheres?
Por que as mulheres, mesmo sendo maioria da população universitária, ainda figuram com salários inferiores em cerca de 30%, em relação aos homens?
Por que ocorre o desestímulo das mulheres na política? Seriam as mulheres desinteressadas pelo serviço de gestão pública, ou seriam as condições de participação na política negadas, quando além do acúmulo de funções que desempenham, suportando ainda quase toda a carga doméstica, os financiamentos e apoios não são assegurados de fato?
Existem e quando existem, qual a qualidade das políticas públicas em favor das mulheres, inclusive no combate à violência e hostilidade que enfrentam, quando se posicionam contra as imposições dos detentores do poder?
O entendimento da sociedade, quando é um homem e quando é uma mulher questionando e protestando sobre o que não concordaM, é o mesmo? Há ou não há a desqualificação daquilo que qualifica a mulher para estar nos espaços de direito, tanto de fala como de ação?
Um exemplo de desqualificação, dado pela palestrante, é quando a mulher ao ocupar uma função é reduzida a ser esposa de alguém, ou até criticada por ser doutora, mestre, etç. “Este é um exemplo típico de desqualificação. E ocorre também quando usam a própria competência para tal, enquanto formação e qualificação profissional para nos desqualificar”, ressaltou Liliam, observando que infelizmente, atualmente, o negacionismo sem encontra em plena arena de horrores, e desqualifica não só a mulher, mas qualquer pessoa que se apoie no conhecimento e na ciência para agir na sociedade.
Dentre outros pontos com origem no atraso do patriarcado colonialista escravagista, que ainda existe e ainda não reconhece a mulher como sujeito de direito, está o apego cultural com os privilégios, reproduzidos, mesmo com todos os enfretamentos já realizados, sobretudo quando governos como o atual, se ocupam de massacrar e oprimir as mulheres, reforçando a desigualdade de gênero, o que vem resultando no aumento da violência que já era gritante, contra a mulher.
“A reprodução da violência contra a mulher está em todas as atitudes, quando não nos indagamos sobre isso, em tudo o que fazemos. É preciso sim, politizar tudo. Quando não prestamos atenção de onde vem aquilo que compramos, os lugares que frequentamos, as iniciativas que apoiamos, podemos estar favorecendo o aumento das violências, o desrespeito e o preconceito contra as mulheres”, enfatizou a palestrante, dando como exemplo as vezes em que a mulher é vista como louca, desiquilibrada, mau humorada, em vez de ter suas reivindicações acolhidas e devidamente analisadas.
“um exemplo disso, é o que aconteceu com a Mariele. Por ser uma mulher corajosa, instruída, generosa que acolhia a todos e por isso passou a ser reconhecida, qual foi a leitura do poder absolutamente machista sobre ela? Que tinham de eliminá-la. A luta da Mariele Franco agora é nossa. De todas nós. É nosso dever honrá-la e não deixar que o seu exemplo seja mais uma vez, desqualificado, pois isso seria um atraso”, completou Lilian, ressaltando que a união entre as mulheres é fundamental, independente das ideologias políticas. Para Liliam, as mulheres precisam darem-se as mãos em tudo o que for possível convergir. “É claro que existem pautas que são frontalmente antagônicas e que não é possível estarmos juntas em tudo, com as companheiras. Mas é preciso que respeitemos as diferenças e também sejamos respeitadas naquilo que não é possível concordarmos”, orienta.
Para a participante e integrante do Coletivo de Mulheres, Juliana Paula Mariani, o dia de protesto foi de aprendizado e reanimação. “Dia 02 de outubro em todo país aconteceram os atos do #forabolsonaro e nós em Laranjeiras do Sul, com nosso Coletivo de Mulheres de Esquerda não deixamos de protestar, mas dessa vez protestamos diferente, nos reunindo, estudando, aprendendo, somando. Tarde maravilhosa de muita reflexão e injeção de ânimo na alma.” Disse.
A participante Suzete Silva, que também passou a integrar o Coletivo, destacou a importância de organizações como o referido Coletivo. “O Coletivo de Mulheres é de suma importância para Laranjeiras e região para que vençamos a desigualdade de gênero e o crescente aumento da violência contra a mulher, as diferenças salariais e de tratamentos no trabalho assim como padrões impostos pela sociedade.”, avalia.
Liliam Porto completou reforçando a necessidade das mulheres se organizarem e se fortalecerem. “Para além da calorosa acolhida e da troca de energia, que nos alimenta para a luta, o debate com o Coletivo de Mulheres foi um momento de formação e reflexão para todas nós, que buscamos a construção de dias melhores num país mais justo.” Finalizou.