Palestra “Ler para Viver” fez refletir sobre a importância da leitura na vida de cada um
A palestra prevista como parte do curso de formação para atendentes em bibliotecas, foi estendida ao público tendo contado principalmente com alunos do Magistério do Colégio Estadual Gildo Aluísio Shuck.
o diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP), Rogério Pereira, esteve em Laranjeiras do Sul, na tarde desta quarta-feira (08), para falar sobre a importância da leitura, ou a falta dela, na vida de cada indivíduo. A palestra do diretor foi parte de um curso de formação promovido pela BPP, em parceria com a Prefeitura do município sede, foi estendida a participantes de toda a Cantuquiriguaçú.
Jornalista e escritor, com diversos de seus contos traduzidos em outras línguas e circulando em muitos países, Rogério Pereira que tem uma história de vida comum a muitos brasileiros (infância pobre, filho de pais analfabetos) quebra esse paradígma na sua própria história através da leitura. Foram os livros que mudaram a sua vida, a ponto não só de sobreviver como escritor e homem do meio literário que é, mas tendo fundado e até hoje a frente do maior jornal de literatura do Brasil. O Jornal Rascunho, reconhecido por todos os órgão de renome na imprensa nacional como o mais lido do gênero, mais circulado e também em volume de assinantes.
Pereira distribuiu a última edição do referido Jornal Rascunho aos participantes (que ao saírem, deixaram muitas edições em cima dos bancos) e também sorteou dois volumes de seu livro “Na Escuridão Amanha”, no qual conta a sua história de sofrimento e privação, vivida junto de sua família, retirantes do interior de Santa Catarina, para a cidade grande, Curitiba no Paraná.
Embora de maneira mito simples no jeito de falar, Rogério toca fundo na ferida social que assola maioria da população, principalmente a brasileira. Sempre destacando a mudança que a leitura e a força que este hábito teve na sua mudança de vida, inclusive quando comparada a de sues primos e irmãos, ele não poupa os detalhes da discriminação inerente a pobreza, as marcas da desnutrição estampadas na pele e no cabelo de um menino que em plena adolescência se vê excluído pelas garotas, pois como ele ressalta: Quem é que se sente interessado por alguém que anda de chinelo havaiana, com as roupas velhas ganhadas dos parentes mais velhos e que tem chuchu como alimentação principal?
Como o próprio autor afirma, as dores pelas quais passou, de tão bizarras e inacreditáveis que o ser humano possa ser passível de tamanha falta de zelo e atenção, sobretudo pela miséria e pobreza a que sua família se manteve, hoje soam até engraçadas, e ele mesmo ri de muitas situações pelas quais passou. “Mas enquanto vivia isso, não era nada engraçado. Como não é engraçado uma criança de 10 anos ter de trabalhar para ganhar o sustento, como não é engraçado um menino ficar feliz a ponto de nunca mais ter esquecido, porque ganhou um tênis furado da professora, aos oito anos”, pontua.
Mesmo fazendo a colocação sem apontar culpados, apenas narrando a própria situação, Rogério instiga qualquer um a pensar no porque de tanta desigualdade, na única saída que se tem para mudar a própria história, mesmo que na beira do abismo, assim como instiga aqueles que podem dar, mesmo que um tênis furado, a fazê-lo. “Pois para quem está com os 10 dedos dos pés no relento, um tênis velho que deixa apenas um dedo de fora, é algo fantástico”, relativiza.
A capacidade de Rogério em usar a própria história, falando com o público como se estivesse sentado no antigo chão de terreiro da casa onde passou a infância (onde era castigado pelo pai que se alcoolizava desde manhã cedo, tendo a mãe mais um drama para administrar), ou voltando da escola onde a pé, com os pés descalços ou de havaianas arrebentadas, carregava os materiais doados pelo governo dentro dum saco de arroz, é intrigante.
Por fim, por causa do horário, pois certamente os dramas de um período de sofrer e ver sofrer não se esgotam, Rogério ressalta que a sua história de vida e a mudança ocorrida por meio da leitura, da literatura e da escrita só tem sentido para ele próprio. E que assim é o ato de ler. É algo que só faz sentido para cada um. “Fato é que uma pessoa pode viver na escuridão por desconhecer o universo da leitura e da escrita, a exemplo de minha mãe, que já morreu. No entanto, ser alfabetizado é diferente de ser leitor, assim como ler é diferente de ser leitor”, conclui.