Oficina tratou sobre cadeia solidária das frutas nativas: do processamento à comercialização
A guabiroba que pode ser consumida na forma de mousses, geleias, sucos, iogurtes e sorvetes, tem mais vitamina C do que a acerola e a laranja.
Oficina para integrantes de grupos agroecológicos organizados foi promovido pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (Ceagro), com a participação do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap/RS), na manhã desta quarta-feira (22), para fomentar a cadeia solidária das frutas nativas – do processamento familiar à comercialização em rede, podendo evoluir para o cultivo, inclusive na recomposição das reservas legais.
As colegas do curso de Agronomia com ênfase em Agroecologia e do projeto Sistema Agroflorestal, Thais Kaminski Primak, Jovana da Rosa e Simone Maria de Oliveira, destacam o trabalho que a universidade realiza na promoção do conhecimento e valorização dos frutos nativos. “As pessoas tem essas frutas na propriedade, mas muitas não dão valor. Não sabem que podem até obter renda com elas”, observa Thais. “O projeto do qual fazemos parte, ajuda no conhecimento e comercialização desses frutos, complementa Jovana.
Já, Simone ressalta a importância da preservação das arvores frutíferas nativas. “Quando se pensa num sistema agroflorestal, as árvores por si só, já são muito importantes. Quando ainda produzem frutos, podendo agregar renda, então é algo que a região precisa ter um novo olhar”, completa a acadêmica.
Convidados pelas instituições locais, os palestrantes, Alvir Langi e Lídia Figueiró trouxeram a experiência do CETAP – que atua no ramo há mais de 16 anos, reforçando a importância do trabalho em rede, convergindo os interesses dos diversos segmentos, assim como em relação à forma de trabalho, desde os primeiros testes com finalidade de aproveitamento, comercialização e ampliação da produção.
De acordo com Alvir, no Rio Grande do Sul já existem plantações de guabiroba na recomposição das reservas legais, por exemplo, conciliando essa preservação ambiental e geração de renda. “Para que se desenvolva o consumo e comercialização das frutas nativas é preciso articular com os diversos atores. Isto não é de interesse único do produtor, mas também do empreendedor da cidade, como restaurantes e confeitarias que podem diversificar sabores e também ganhar com isso”, enfatiza Alvir.
Lídia, que atua na entidade Encontro dos Sabores, ligada ao CETAP, conta sua trajetória e evolução no entendimento e aprimoramento do processo, começando pelo aproveitamento de resíduos das feiras, até desenvolver receitas refinadas com grande apreço e demandas no mercado, como o bolo de araçá com cobertura de guabiroba, frango ao molho de butiá e porco com calda de jabuticaba. “A guabiroba, que vocês têm em abundância aqui, rende desde mousses muito apreciados até geleias, sucos, iogurtes e sorvetes”, afirma a técnica, observando ainda a possibilidade de comercialização pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), fazendo chegar nas crianças, divulgando novos sabores e fontes nutrimentais, além de construir novos hábitos alimentares.
O grupo de Nova Laranjeiras, um dos assistidos pelo projeto Sistema Agroflorestal da UFFS/CEAGRO, relatou que além de estarem obtendo renda extra, a partir do aproveitamento dos frutos da guabiroba, que através do projeto foram comercializados mais de 600 Kg de polpa do fruto, destacou a solidariedade que o trabalho em rede proporciona. “Desde que fomos a uma feira em Curitiba, chamada Sabores e Saberes, há mais de 10 anos, passamos a ver com outro interesse a nossa propriedade”, disse uma dos membros do grupo, ressaltando a importância do apoio do poder público às políticas públicas que promovam a agroecologia.
“Estamos botando muita fé na discussão e divulgação da fruta nativa, a exemplo da uvaia, do araçá e da guabiroba, fruta esta que tem muito mais vitamina C que a acerola e laranja, mas que pouca gente sabe”, disse o professor da UFFS, Julian Perez.