Agroecologia e Sustentabilidade

O colunista semanal de Comcafé, Alessandro Kominecki, é professor de Geografia, especialista em Educação do Campo e membro da APP-Sindicato núcleo de Laranjeiras do Sul. Atua como professor na rede estadual de ensino do Paraná.

Um dos principais desafios na Educação do Campo é estabelecer relações entre os conteúdos científicos estudados na escola e o modo de vida dos estudantes. Este, predominantemente baseado na produção agrícola. Essa questão se torna ainda mais latente quando a atual conjuntura do campo brasileiro nos coloca em meio a projetos distintos e antagônicos para a agricultura: modelos baseados no agronegócio e modelos que se identificam com a Agricultura Camponesa e a Agroecologia. Neste sentido, desenvolver ações que fortaleçam a compreensão e debate da Agroecologia, bem como sua relação com o conhecimento científico, faz parte deste desafio, pois se trata do projeto que queremos construir e que está essencialmente vinculado à Educação do Campo. Assim, a Escola do Campo como espaço de referência das comunidades camponesas, tem a função de disseminar estes conhecimentos demonstrando os malefícios do Agronegócio e indicando possibilidades em superá-lo em suas ações cotidianas.

Desse modo, a Escola do Campo Iraci Salete Strozak entende a importância do Projeto de Agroecologia, que tem como objetivo instrumentalizar os educandos da Escola, principalmente no que diz respeito a uma abordagem integradora dos conhecimentos estudados e auxiliar na relação dos conteúdos com as questões que envolvem o modo de vida no campo, com intuito de promover processos de ensino-aprendizagem mais significativos bem como reafirmar a realidade como ponto de partida.

O Projeto de Agroecologia busca abordar práticas agroecológicas estabelecendo mediações e vínculos com o modo de vida e trabalho destes educandos com intuito de reforçar a importância da agricultura camponesa baseada na agroecologia, fazendo uma contraposição ao modelo capitalista de desenvolvimento para o campo. O projeto atualmente é desenvolvido somente pelos educandos, ou seja, sem educadores (Devido ao desmonte educacional do governo Beto Richa), os alunos com auto-organização articulam práticas agroecológicas ao conteúdo e as contradições entre os projetos de agriculturas existentes no campo.

A agroecologia pode ser tomada como outra forma de fazer Ciência, e que essa ciências pode ser vinculada aos conteúdos escolares e trabalhada numa tentativa de fornecer aos educandos, uma visão sistêmica, que restabeleça a relação humana e a natureza. Apontando exemplos práticos de contrapor-se ao modelo de desenvolvimento econômico capitalista para a agricultura sob a forma do agronegócio, centrado na exploração de recursos e acúmulo de riquezas de alguns grupos econômicos internacionais, e que inclusive, ameaçam a sua própria permanência na Terra e sua existência como modo de vida e grupo social.

Diante desse cenário, pensamos que a escola seja espaço que deve desenvolver ações e práticas que fortaleçam o debate da agroecologia. Neste sentido, o projeto de agroecologia realizado na escola podem potencializar as ações pedagógicas a fim de contribuir neste processo, articulando o ensino a práticas que tenham como base a agroecologia, até porque, é possível perceber que a agroecologia está muito próxima de cada família agricultora e pode ser exercida em qualquer lugar, inclusive na escola.

Algumas práticas agroecológicas que são desenvolvidas na horta da escola vão desde o manejo correto do solo, plantas indicadoras, consórcio, compostagem, vermicomposto (minhocário), caldas para o controle de pragas e biofertiziantes para adubação orgânica etc. práticas que abordem um jeito

diferente, do que está posto hoje, de desenvolver a agricultura respeitando e colaborando com a natureza, já que a agroecologia trata-se de ciências que harmoniza a interação da agricultura e ecologia. Além das aulas práticas os educandos promovem debates e realizam atividades teóricas referentes aos princípios da agroecologia, campanha permanente contra o uso intensivo de insumos químicos e sintéticos, dentre eles o uso indiscriminado de agrotóxicos e suas consequências, agricultura familiar e agronegócio, transgênicos, monucultura entre outros temas, com o intuito de reforçar os malefícios da agricultura industrial, capitalista e que outra agricultura, além de ser possível já esta em desenvolvimento para fortalecer a luta popular por mudanças estruturais.

A partir disso, iniciamos uma abordagem teórica, dialogando sobre os modelos de agricultura em disputa no campo brasileiro, o agronegócio a agricultura camponesa, associando com as formas de produção que prevalecem no assentamento, e no próprio lote. Os educandos debatem conceitos sobre Agroecologia e Agronegócio, Agricultura Camponesa e Agricultura Convencional, outro tema muito debatido foi é o uso indiscriminado de Agrotóxico. Utilizando cartolina e pincel atômico os educandos desenharam uma árvore na qual a raiz simbolizaria as causas do problema, o tronco seria o problema e os galhos e folhas, por sugestão dos mesmos, as possíveis soluções desses problemas. Abordaram também os problemas que julgaram mais pertinentes a eles diante das discussões sobre o agronegócio, seus efeitos e consequências no campo, puderam abordar questões que vão desde a própria unidade de produção como a do assentamento de uma forma geral.

Após análises dos problemas enfrentados nas unidades de produção puderam constatar que o modelo agroquímico utilizado é degradante ao meio ambiente a saúde e economicamente inviável, que o modelo da monocultura e da dependência de insumos externos não serve para a agricultura familiar/camponesa. Com debates sobre agroecologia é possível identificar alguns aspectos básicos e fundamentais para reconstrução sustentável dos sistemas de produção, sendo: diversificação da produção, produção para o autoconsumo, recomposição da fertilidade dos sistemas, preservação da água, etc.

Outra prática desenvolvida pelos educandos foi à da construção do minhocário. Dentre os conteúdos selecionados estão animais invertebrados mais especificamente os anelídeos para que os educandos pudessem ter um melhor entendimento de como as minhocas são importantes para melhorar a qualidade da terra e torná-la produtiva. Os educandos puderam voltar até o minhocário e verificar na prática como esses animais se comportam, desde como se dá sua reprodução e principalmente como funciono seu aparelho digestório principal característica pela qual a minhoca produz o húmus. Os educandos puderam perceber que a minhoca é uma grande companheira que o agricultor tem para adubar a terra sem custo algum.

As atividades realizadas de forma mais constante, já que a escola dispõe de um amplo espaço para o cultivo de hortaliças se deram basicamente a manutenção dos canteiros: limpeza, semeadura, mudas, etc. Essa manutenção se deu em outros espaços da escola como jardim e agrofloresta que esta sendo implementada na escola fruto do Projeto de Agroecologia do ano anterior. Os educandos, após discussão coletiva, acharam por bem além de se responsabilizarem pela colheita das hortaliças e seu preparo para serem consumidos no almoço, já que os mesmo que participam do projeto necessitam ficar na escola, ainda que pudessem levar pra casa parte do que foi produzido na horta.

Por fim os educando ainda confeccionaram cartazes abordando o tema agriculta familiar versos agronegócio onde eles puderam ilustrar a unidade familiar de produção (lote) da família e apontassem qual situação atual do lote, ou seja, de que forma a unidade de produção está organizada de forma que pudesse proporcionar uma visão sistêmica do todo da unidade de produção, incluindo as atividades produtivas, meio ambiente, estrutura, localização e etc. e fazer uma contraposição com o modelo de agricultura imposto pelo agronegócio juntamente com texto elaborado com base em experiências vivenciadas e em questões abordadas nas aulas do projeto.

Assim o Projeto de Agroecologia nas escolas do campo traz à tona a importância da Agroecologia como princípio orientador, na busca da integração do Homem com a natureza e na produção agrícola de forma sustentável.

 

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.