Formação sobre Gênero e Luta de Classe tem representes de diversas entidades da Cantuquiriguaçu
O dia integral de aula com o Dr. Luiz Fabiano Zanatta, professor da Universidade Estadual do Norte do Paraná – Bandeirantes, sobre a temática de Gênero e Luta de Classe, envolveu professores, movimentos sociais e representantes da Cultura.
Como conteúdo do curso de espacialização em Realidade Brasileira, da Universidade Federal da Fronteira Sul, foi ofertada nesta sexta-feira (25), no espaço formativo do Ceagro, em Rio Bonito do Iguaçu, um dia integral de aula sobre Gênero e Luta de Classe. O Professor Dr. Luiz Fabiano Zanatta, ministrou a aula para um representativo grupo de integrantes de entidades como: App-Sindicato (regional), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST- regional), Conselho Municipal de Cultura e Coletiva de Mulheres de Laranjeiras do Sul.
O encontro iniciou colocando em debate a importância da prática da sororidade, termo recente, cujo conceito refere-se a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. Observando que para tanto, a solidariedade e fraternidade dos homens, como parceiros e companheiros das mulheres, na luta pela igualdade, é fundamental. “Nós homens não temos como negar a opressão histórica que o gênero feminino sofreu e sofre pela ação direta da sobreposição do sexo masculino, alicerçada nos valores culturais, religiosos e, importante destacar, na linguagem que privilegia o gênero masculino, na forma da escrita e da comunicação de viés pedagógico”, ressalta o professor.
Em relação à linguagem sexista, foram muitos os exemplos colocados pelas pessoas participantes, observando que quando os termos da norma culta, a exemplo de “a soldado”, coloca a mulher numa condição de subordinação, de forma que tenha que se incluir num contexto pensado com prioridade nos interesses masculinos, como mensagem subliminar de que aquele não é seu lugar. “Um exemplo é ao chegar em sala de aula, dizer: “bom dia a todas” para o coletivo de alunos. O incômodo dos gênero masculino é manifestado imediatamente”, comentou uma professora, explicando que costuma fazer a abordagem de desconstrução do machismo presente no contexto da linguagem, e que logo esclarece aos alunos que deseja bom dia, a todas as pessoas, presentes.
Outro tópico exposto, debatido e encaminhado durante a aula, foi em relação à ditadura que o capital impõe, criando necessidades voltadas para uma padronização humana, direcionando principalmente para que as mulheres se sintam feias, antiquadas e fora de contexto, caso não usem os cosméticos em alta, a moda da vez e as fragrâncias aromáticas que alterem o seu cheiro natural, como se dependessem necessariamente de transformações pensadas e disponibilizadas pela indústria, que visa a mercantilização dos corpos.
O determinismo biológico, que é criado para distinguir a dimensão biológica e logo social e política das pessoas, os conceitos antropológicos e ampliados para a diversidade de gênero, bem como a sociedade como uma ordem maior que dita os regimes, sejam quais forem, elencando sempre uma relação de poder, de acordo com os macros interesses de mercado, foram a tônica da aula do professor Fabiano.
“Antes mesmo de nascermos, somos colocados numa caixa, visando nos manter no padrão pré-estabelecido, a partir do determinismo biológico, que amparado nas instituições sociais, ditam quais devem ser os comportamentos. Essas instituições, funcionam como as paredes da caixa. Assim, aqueles com comportamentos adversos ao pré-estabelecido, encontram pressão maior nas paredes dessa caixa, o que é explicado nas teorias pós-estruturais”, ilustrou o professor.
A partir dos elementos colocados em discussão durante a aula, e das contribuições dos participantes, fica evidente que o patriarcado segue sendo um instrumento do capitalismo. Dentre outros aparelhos de repressão do gênero feminino, estão: o padrão cultural, a formatação dos corpos e a legislação que os condiciona como propriedade privada, isto falando apenas sobre as formas sutis de violência de gênero.
Para a participante Mirian Conrad, integrante do MST, trabalhar a questão de gênero é fundamental, porque só se consegue efetivar a transformação da sociedade, quando as relações são pensadas na perspectiva da igualdade. “A forma como a sociedade capitalista está estruturada, coloca os homens numa condição de superioridade e logo as mulheres numa condição vulnerável à violência. Porque se materializa essa condição de inferioridade e de propriedade. Isto implica em deixar claro que não estamos colocando os homens como um problema. Mas que se compreenda a estrutura da organização da sociedade patriarcal, e que a partir do diálogo essas diferenças sejam reparadas e superadas”, comentou Mirian.
A lacuna que a coerção do debate sobre gênero deixa na educação
A partir da censura sobre o debate de gênero nas escolas, anunciada pelo atual governo, o entendimento de educadores como a professora Valquíria Mazetto, que também é integrante da direção estadual da APP-Sindicato, é de que a sociedade como um todo, sai perdendo. “A última década foi marcada por avanços dos movimentos sociais no debate pela redução da violência contra a mulher, os incentivos das políticas publicas em todos os níveis, tanto na criação das casas de apoio como de oferta de emprego para que as mulheres tenham autonomia. Isto não foi nenhuma benesse de um governo. Foi conquista da sociedade com muita luta”, disse Valquíria, complementando que quando um governo coloca como prioridade, valores morais religiosos de um determinado grupo, pautando uma política pública a partir de um olhar privado, as diferenças se acentuam.
Na mesma direção, o professor Dr. Luiz Fábiano Zanatta, ressalta que a lacuna que a repressão ao debate sobre gênero deixa no âmbito da educação, refletirá sobretudo com na saúde pública, e é preocupante. “O debate de gênero, centralmente busca conscientizar sobre o respeito e proteção. De forma alguma, se orienta a opção de gênero. Ela já está lá. Esta é uma temática da dimensão humana. Está presente na arquitetura, na forma que com que as crianças brincam pelos pátios da escola. O que lamentamos é a falta dessa contribuição com a saúde pública, uma vez que dados de diversas pesquisas mostram que onde se faz esse debate, há redução de gravidez na adolescência e transmissão de doenças, contribuindo com o desenvolvimento saudável dos nossos adolescentes e jovens”, complementa Zanatta.