O erro de Gava

Diego Mendonça.Tenho a impressão de que o Gava atrasou em uma semana o início da campanha, mas isso não é substancial, ou pelo menos não foi. O que é substancial para uma disputa de prefeitura é um posicionamento político firme e claro. O discurso do gerencialismo e da boa gestão empreendedora de caráter empresarial não se sustenta. Ele é, antes disso, uma falseta ideológica a qual propaga a submissão dos interesses públicos diante dos privados.

Nesta nova onda em que o Brasil se encontra de desilusão com os governos uma alternativa dos candidatos espalhados pelo país foi a de mostrarem-se apolíticos para o eleitorado. Ora, se o cargo o qual será conquistado é eminentemente político não se deve abrir mão do debate político franco numa candidatura.

Dória, em São Paulo, fez exatamente isso: pregou a possibilidade de uma gestão eficientista e ganhou com a ideia do “não sou político”. Entretanto, ele tinha uma das mais nefastas máquinas de fazer votos do país trabalhando para ele, o tucanato paulistano.

Apesar de uma coligação ampla, a escolha de Gava em não fazer um debate direto e objetivo com Berto Silva demonstrou fraqueza – atributo não desejado para um prefeito. Um prefeito não pode fugir à discussão, não pode se esconder, camuflar-se ou utilizar de escudo o aparato da moeda. A blindagem cobrou seu preço.

No campo das hipóteses, se Gava tivesse se posicionado enfaticamente em defesa de um projeto de cidade o qual fosse construído coletivamente, na essência popular, e tivesse se colocado como uma alternativa de votos conscientes em vez de rebaixar o programa ao nível do patrimonialismo mais puro poderia ter se saído melhor, e até vencido a eleição. Explico.

Com uma proposta de município imbricada no povo e lastro social sério a probabilidade de o PT juntar-se à campanha de Gava aumentaria, e muito. Os votos petistas acabaram esvaindo-se nas três candidaturas devido à dúvida que pairava no contraditório da real possibilidade de Laureci angariar muitos votos, por um lado, ou uso do voto útil em uma das outras opções, por outro. Porém, caso o PT se alia-se pragmaticamente à candidatura de Gava certamente conseguiria focar e direcionar votos – os quais seriam decisivos, como muitas vezes já foram na cidade.

O erro fundamental de Gava foi, enfim, não dar o salto de qualidade necessário para superar o discurso do apolítico ao tentar fazer política em nome apenas do azeitamento da máquina. Berto, ao contrário, teve posições mais convictas e abertas.

Contraditoriamente a população laranjeirense recolocou um ex-prefeito para um novo mandato ao dizer que política se faz politicamente.

Em São Paulo, Dória venceu. Aqui, o Gava não.Diego Mendonça.

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